Fernando Pessoa

Esperando passar a hora, (paciente desmarcado), peguei um dos meus livros favoritos – Poesias Completas de Álvaro de Campos – e, tem esta que bate profundamente:

Tabacaria

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso,tenho em mim todos os sonhos do mundo.
(parte mais conhecida do poema)

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
à Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho,como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos,
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E, quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela,sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não fiz.

Parece que esta é uma reflexão que ocorre com alguns viventes que gostam de se entreter consigo. A introspecção nos leva a mundos recônditos em nós.
Aconselho a leitura do poema completo.

José Régio

Soneto quase inédito

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orcamento;
Cresce a miséria ao povo amordacado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto a fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele… e da nacão.

JOSÉ RÉGIO Soneto escrito em 1969, no dia de uma reunião de antigos alunos.

(Recebi do A. Oliveira. Obrigada.)

Fernando Pessoa

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos..
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um ‘não’.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…

(Fernando Pessoa)