Como conheci o Rio de Janeiro

Era tarde de domingo, dia primeiro de Janeiro de 1978. Começava a sentir uma incomoda dor de barriga e, como estava no Rio de Janeiro, liguei para o obstetra que acompanhava a gravidez do meu filho, para receber orientações.
Tudo tinha começado a três dias do Natal. Comecei sentindo uma pressão forte na barriga e costas. Estava grávida de 33 semanas e, depois de três abortos e um filho morto no parto, a minha insegurança de toda a gravidez, redobrou. Corri para o médico que depois de examinar o neném achou que eu deveria passear para relaxar. O meu marido, concordando, resolveu me levar para fazer uma viagem de 1000 kms. Acho que a idéia do médico não era bem essa, mas lá fomos. Saímos no dia 29 de dezembro, sem destino, esperando chegar onde a cansaço nos parasse.
Quando passamos por São Paulo o cansaço já começava a tomar conta de mim, mas, achamos que andar um pouco mais não faria grande diferença. Lá fomos e quando percebemos estávamos tentando não entrar na ponte Rio – Niterói. Infelizmente não conseguimos. Chegando a Niterói procuramos um hotel. Busca infrutífera. E, voltamos em direção ao Rio de Janeiro. Lá fomos nós procurando agulha em palheiro, já que a cidade nos era absolutamente desconhecida. Rumamos à Avenida Atlântica e o primeiro hotel com vaga foi a nossa opção – Miramar Palace Hotel. Deitamos exaustos e no dia seguinte começamos a traçar planos para as nossas férias no Rio. Depois do café da manhã, descemos até um ponto de táxi, bem ali do lado do hotel. Encontramos um senhor muito atencioso, português, também, que se ofereceu para fazer um “tour” conosco. “Faço um precinho especial para os conterrâneos”.
Não prestei muita atenção no tal “precinho”, pois, me parecia que, pelos dos meus 27 anos, grávida, mas, apenas com mais 7 quilos acima do peso normal, estava cansada demais. E, lá fomos nós.
Primeira parada – o Corcovado. Subimos quase até à escadaria de carro. Depois começou a dificuldade. Olhei lá debaixo a altura do Cristo Redentor, e, perdi a coragem. Não adiantou a insistência – ”Chegamos aqui e não vais subir?”- dizia o meu marido. E, eu, absolutamente convicta – “Não, não vou. Vão vocês…”
Senti-me meio idiota mas não conseguia me mexer do lugar. O medo me paralisava. Medo, sim. Não era a canseira que me impedia de subir. Era absoluto pânico. Imagine a frustração – estou aos pés do Cristo Redentor e não consigo subir as escadas. Nunca mais, embora tenha voltado ao Rio, nunca mais fui tentar subir. Acho que hoje até conseguiria, mas, tenho outras prioridades.
Após a visita ao Cristo Redentor fomos até à serra da Tijuca. Para falar a verdade, só lembro do verde, de imensas trilhas, restaurante, a vista do Rio, magnífica de lá de cima, e mais nada. Eu queria terminar logo esse passeio que estava começando a me pesar.
Chegamos ao hotel, e, como não me sentisse bem, procuramos por um obstetra. Tarefa nada fácil já que o pessoal estava se preparando para o réveillon. Depois de muita luta conseguimos um médico que me aconselhou, após exame do líquido amniótico, a esperar 72 horas. “O líquido não está maduro, mas precisamos estar preparados para o neném nascer a qualquer instante. Se agüentar 72 horas o perigo deve ter passado.
Bom, dia 30 de Janeiro, eu na mais bonita cidade do mundo, no mais badalado local de réveillon do mundo, e teria que ficar agonizando torcendo para que meu neném não nascesse antes do tempo. Pegamos o endereço da clínica onde o médico faria o parto de emergência, se necessário, os telefones da casa, o Pager, outro bip, enfim, fomos tranqüilos porque encontraríamos o médico se necessário. Doce ilusão!
No dia seguinte, véspera de Ano Novo, não saí do hotel. Fiquei olhando da janela os foliões na avenida. À noite da nossa janela pudemos assistir à queima de fogos do hotel Meridien. Um espetáculo. Simplesmente maravilhoso. Uma cascata de várias cores descendo as paredes do hotel. Lindo! Fizemos nossos pedidos. Pedimos proteção para nós e para o nosso filho. Meu marido prometia a Deus doar uma cesta básica para uma creche em caso de dar tudo certo.
Fomos dormir com esperança de que as 72 horas passassem sem novidades. Por volta das 14 horas saímos para almoçar num restaurante pertinho do hotel. Sentamos, fizemos o pedido, esqueci do que pedi e não comi, e, a certa altura senti que alguma coisa não estava certa. Fui ao banheiro e assustada, confirmei meu medo. A bolsa do neném acabara de romper. A partir daí foi só corrida. Não havia taxi, não conhecíamos nada, não encontramos o médico em nenhum dos telefones que ele nos dera, enfim, foi um Deus nos acuda. Liguei para o meu médico, em Marília, que me aconselhou a observar o intervalo das contrações. A coisa apertou e resolvemos correr para um hospital.
No hotel só conseguimos que nos orientassem no trajeto para o hospital Miguel Couto. Lá foi meu marido, dirigindo, e, eu mortificada de medo e dor. Chegando no Hospital, fui examinada e constataram que estaria com “três dedos” de dilatação. Pelos meus cálculos isso já era muito dedo. “Só tem um problema. Nós não temos maternidade.”
“Como é que é?”
“Vão precisar correr para a Maternidade da Praça Quinze”.
“ E, como o senhor sugere que façamos isso, se nem conhecemos a cidade?” Falava o meu marido já perdendo o controle.
“Não posso fazer nada. Aqui não temos maternidade.”
“Mas ninguém sabe fazer um parto aqui” continuava o meu marido.
“Saber até sabemos, mas não somos maternidade”.
“Olha aqui meu senhor, Por acaso o senhor tem idéia de como iremos para a Praça Quinze?” esta já era eu meio desesperada.
“ Melhor chamar um taxi”
“Então o senhor poderia encontrar um taxi para nós?” sugeri.
“Isso eu não posso fazer, vocês usem o orelhão ali” apontava o telefone da entrada, no saguão.
“E que telefone o senhor sugere que usemos?”
“Eu não sei. Essa informação não é da minha competência”
Não vou narrar o que aconteceu depois, já que a esta hora eu chorava compulsivamente imaginando mais um filho que eu perderia. Eu sentia dores a intervalos quase imperceptíveis.
Mas em todo o inferno tem um anjo de plantão, meio escondido, e o nosso chegou na forma de um outro médico, novinho, que de alguma forma colocou à nossa disposição uma ambulância. A ambulância corria com as sirenes gritando e eu morrendo de medo já convicta de dessa vez eu ia junta para o outro lado. Comecei a dar orientações ao assustado marido que segurava a minha mão. “Cuida do nosso filho se ele sobreviver. Eu acredito que desta vez eu não escapo.” Ia lembrando as outras vezes em que estivera em situação semelhante. Primeiro em Mocimboa da Praia, Moçambique, saindo em avião militar para Nampula, onde passei o inferno até ser liberada sem curetagem depois de abortar. Um mês depois acordando com hemorragia que trespassara o colchão, fui atendida de emergência para que finalmente a curetagem fosse feita. Depois mais duas vezes em Lourenço Marques. E, no Brasil, meu primeiro filho nasce morto, depois de horas em luta para que o nascimento acontecesse por parto normal. Eu ainda não tinha pago um ano de INPS, na altura estava há apenas 10 meses no Brasil, e não tinha direito a cesariana. Infelizmente o parto normal não aconteceu e quando já era tarde a cesariana foi feita. Bom, mas este é assunto para outra vez.
Chegamos à Maternidade pelas 17 horas. E, a saga continuou. Os elevadores não funcionavam e subimos 5 andares. Experimentem fazer isso carregando um filho na barriga e hemorragia descendo sem parar. Eu subia e o sangue descia. Chegamos, finalmente.
Uma simpática enfermeira avisou o meu marido que ele ficaria do lado de for. “Tem certeza que preciso entrar sozinha?” “É isso ou pode voltar para casa”. Quanta gentileza.
Chorando copiosamente, me despedi do meu companheiro.
Após alguns toques dolorosos, a enfermeira avisou o médico que eu estava com 5 dedos de dilatação.
Mudamos de lugar. Fui preparada para aguardar a hora do parto.
E, aí aconteceu um dos momentos de maior desamparo em toda a minha vida.
Numa enfermaria de oito leitos, só se escutavam os gritos de mulheres com dor que sobressaíam às conversas dos médicos. Chegada a minha vez, lá vieram uns 5 médicos e todos dispostos a ver quantos dedos cabiam no colo do meu útero. Não importava o quão incomodo pudesse ser aquilo. Cada um dava vez ao outro num processo exaustivo.”Bom precisamos fazer cesariana para que a mãe não morra.” Animador, pensava eu. Então lá se vai mais um?”
Fui, então preparada para submeter-me a uma cesariana.
Fiquei aguardando a minha vez no meio de desespero e dores muito intensas.
“Moça me dá a mão” pedia eu a uma enfermeira.
“Você está é doida. Eu, hein?!”
Não entendi. Me sentia profundamente desamparada e ninguém para me dar a mão.
Chega a explicação,” Se ela te der a mão você vai morder”, por uma outra enfermeira.
“O quê? Por que eu faria isso? Não, não vou. Só quero uma mão para me sentir apoiada.”
“Pois vai se acostumando sem a mão. Aqui não damos a mão.”
Não era possível aquilo. Que inferno era aquele?
Mais uns minutos e lá vem outra equipe médica. Mais introdução de mãos na parte mais dolorida do meu corpo, a essa altura, e novo diagnóstico. “Que cesariana?! Nada disso. Se fizer cesariana a criança morre.” Ah, então é isso. Optaram pela criança. Melhor eu fazer meu ato de contrição – estes pensamentos cruzaram a minha mente com rapidez fulminante. Por algum motivo essa criança tinha prioridade sobre mim e eu iria aceitar sem reclamar, não por abnegação apenas, mas, muito mais por falta de força.
Após alguns minutos mais escutei gritarem meu nome e em seguida me carregaram numa maca e lá fui eu para a sala de parto.
É, agora, pensava. Já nem sentia mais dor. Tinha entrado num estupor total.
-Olá dona Delfina. Então temos uma criança prematura chegando?
-Parece que sim doutor, gaguejei.
-Fique tranqüila. Vai dar tudo certo.
Olhou, olhou e depois de uns instantes infinitos:
– Olha dona Delfina. Vou precisar cortar um pouco para o seu neném nascer.
-Mas vai ser cesariana? Perguntei apavorada. Mudaram de idéia de novo?
-Não. Vamos cortar o períneo. o seu filho não pesa mais de 2,5kg, é muito pequeno, mas, mesmo assim precisamos abrir caminho para ele passar.
-Ah…
Enfim, depois de alguns muitos “empurra” e “faz força” um minúsculo ser humano era pendurado pelos pés na minha frente. Entrei em convulsão.
Logo o interesse do médico, e, seu auxiliar, voltou-se para mim. Em instantes voltei ao quase normal, tremendo muito e agradecendo sem parar. Tinha esquecido que eu deveria morrer.
Perguntei o nome do médico, Doutor Cavalcanti, e, prometi rezar por ele todos os dias da minha vida. Mantive a promessa e cumpro- a até hoje.
Só fui olhar de fato o meu filho no dia seguinte. Saí da sala de parto sentindo-me irreal, um tanto ET mesmo, afinal eu tinha um filho.
E, onde andava meu marido? Será que tinham lhe mostrado o filho?
Com estas conjecturas ainda fervilhando com a agitação da maternidade recente, recebi a visita do médico que fez o parto do Ricardo. Uma gentileza só, o homem que, no momento, eu considerava a sumidade da medicina obstetra.
Pouco depois adormeci e fui acordada por uma enfermeira que me aconselhava a levantar para tomar o meu banho “antes que o banheiro fique imundo”. Diante da perspectiva, apesar das 5 horas da madrugada, levantei e tomei um reconfortante banho. Recostei na cama esperando o porvir. Não sabia ao certo o que aconteceria depois. Eu estava numa maternidade pública e com atendimento público. Não posso me queixar. O café da manhã deve ter acontecido mas não lembro dessa refeição. Lembro que no meio da manhã as mães receberam seus filhos no quarto para amamentar e eu fiquei olhando. O meu filho estava na incubadora. Quando pude vê-lo, fui apresentada ao pediatra de plantão que me falou que meu filho pesava 1,6 kg e media 43 cm. Respirava sozinho e estava na incubadora apenas até recuperar um pouco de peso.
“Quer segurá-lo?” perguntou o médico.
“Claro” respondi, mas muito insegura se deveria arriscar tirar o meu filho do conforto da incubadora. Ele era tão pequeno!
Segurei esse pequenino ser, não mais que 2 minutos, findos os quais me senti absolutamente incompetente para a tarefa. O médico não entendeu, tentou convencer-me de que eu não o deixaria cair, mas, era eu que sabia o que estava fazendo. Vai que ele cai?
Nos dias seguintes ensaiei a tarefa de amamentar. Eu tinha muito leite que já doava para o berçário, e, meu filho precisava mamar no meu seio.
Posso garantir que me senti totalmente inapta e a esta altura achava que ou o meu filho tinha uma boca muito pequena ou eu tinha uns mamilos muito grandes… Optamos por oferecer o leite na mamadeira. Ele mamava 10 gramas a cada 2 horas e eu parecia “uma vaca leiteira” como dizia uma enfermeira. Sei que algumas crianças se aproveitaram disso.
Ao final de 19 dias, o meu filho já pesando 1,860 Kg teve alta da Maternidade e embarcamos, eu e ele, rumo a Marília, de avião para que a viagem não atrapalhasse. No aeroporto muitos quiseram ver o que achavam ser uma boneca de tão pequeno que era. Eu era só gentileza. Mostrava para quem quisesse ver.
Esta felicidade só foi quebrada por um fato meio esquisito que aconteceu depois do parto. No dia seguinte, dia 2 de Janeiro, o hospital quis dar-me alta. Procurei o meu marido, deixei recado no hotel, mas não consegui encontrar. Ele apareceu no dia 3, quando eu já cogitava que havia sido abandonada numa terra estranha com um filho pra criar. Cabeça de mãe de primeira viagem viaja…

Quando me perguntam se conheço o Rio de Janeiro eu respondo que conheço mais ou menos. Na realidade, o Rio de Janeiro me deu o bem mais precioso da minha vida e alguns dos maiores sustos também. Voltei ao Rio alguns anos depois para visitar os médicos que me apoiaram no Hospital Maternidade Praça Quinze e para conhecer melhor a cidade. Mas confesso que não fiquei muito tempo. Não sou tão apaixonada pela cidade quanto os turistas que lá vão. Prefiro lugares mais tranqüilos.
Quem sabe um dia eu resolva conhecer mesmo a cidade maravilhosa!

Assassinato triplo

desesperorsrsVéronique Courjault, a francesa que admitiu ter matado seus três bebês depois de esconder a própria gravidez, foi condenada nesta quinta-feira (18) a oito anos de prisão pelo Tribunal de Indre-et-Loire, no centro da França. O marido, considerado cúmplice a princípio, foi depois inocentado. Foi ele que encontrou os bébés no congelador.
Vamos ver se eu entendi:”O primeiro crime aconteceu em 1999, na França, e os outros dois, com os bebês nascidos em setembro de 2002 e dezembro de 2003 em Seul, foram mortos por asfixia, segundo a necropsia”.
Eram 3 bébés, foram 3 crimes em locais diferentes, em datas diferentes, mas eles apareceram congelados no mesmo lugar e o marido só abriu a porta do congelador 3 anos após o último assassinato? Como ela escondeu por 3 vezes a gravidez? Oh marido zarolho ou retardado…Não é à toa que convivemos com psicopatas sem sabermos. Mas dormir com eles já leva uma diferença.

Justiça Cega

“Uma corte de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, condenou por homicídio culposo uma mulher que perdeu seu bebê na gravidez após um acidente de trânsito.
A mulher, uma libanesa que estava grávida de nove meses na época do incidente, foi sentenciada a pagar uma indenização de cerca de US$ 5,5 mil ao resto da família.”
A notícia, a meu ver carece de lógica. Primeiro a condenação (homicídio culposo) para alguém que carrega por nove meses o filho no seu ventre parece irracional. Durante nove meses a “ré” não concebeu melhor forma de provocar o “aborto”? Me parece tolice acreditar no aborto voluntário, neste caso.
Agora, se condena alguém por homicídio culposo (2º grau) e se aplica uma multa em dinheiro? Não entendi essa justiça. Definitivamente não entendi. Ler mais

Estupro, ainda!

Desta vez uma menina de 13 anos, na Bahia, 4 meses de gestação, grávida do pai. Ele está preso e a menina pretende levar a gestação até ao final.
O conselho Tutelar foi avisado do estupro, mas “Não tomamos providências naquela época por falta de condições de trabalho. Imagino que a gravidez, pela idade do feto identificada na ultrassonografia, tenha ocorrido na mesma época da denúncia”.
Então tá!
O pai está preso e a menina sob a tutela do conselho que não pode socorrê-la.